Notas
Sojicultor deve defender a margem de lucro e não a produtividade, diz pesquisador
Especialista do Cepea ressaltou, durante o Fórum Soja Brasil, as mudanças de patamares da rentabilidade que o setor viveu nos últimos anos e o que fazer para não perder dinheiro
Daniel Popov, de São Paulo
Durante o Fórum Soja Brasil, que aconteceu nesta quinta, dia 8, em Não-Me-Toque (RS), o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) Mauro Osaki explicou porque o setor tem vivido tantos altos e baixos na rentabilidade e garantiu que o produtor precisa mudar a maneira de planejar a safra e os ganhos.
Depois de acompanhar um longo estudo de 10 anos, do projeto Campo Futuro, realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o pesquisador trouxe para discussão com os produtores algumas resoluções obtidas. Uma delas é que a rentabilidade atual dos produtores está parecida com a de épocas passadas.
Veja como foi o Fórum Soja Brasil
“De 2007 até 2011 a rentabilidade do produtor girava em torno de R$ 450 por hectare. Isso mudou de 2012 a 2016, e saltou para mais de R$ 1 mil por hectare, fazendo com que muitos produtores acreditassem que essa seria a nova realidade. Só que em 2017 e neste ano, os patamares de rentabilidade voltaram para os registrados antes de 2012. Isso tudo não teve uma única causa, claro. E é preciso entender o que aconteceu”, diz Osaki.
O pesquisador do Cepea explica que nos anos em que as margens estavam maiores, o câmbio e a demanda crescente aliados a quebras de safras em algumas localidades ajudaram a elevar os valores e ganhos dos produtores. “Muitos achavam que isso ia durar, mas as revendas de máquinas e insumos, outros prestadores de serviços também viram ali a oportunidade de ganhar mais, e os custos totais aumentaram junto”, conta ele.
Independente do momento econômico que o setor enfrenta, Osaki ressalta que o produtor precisa mudar o jeito de projetar a sua safra. “Muitas vezes a preocupação é ter alta produtividade e quando colher se verifica a margem. Mas o ideal é pensar: se eu tiver tal produtividade, qual será minha margem? Pois não adianta nada produzir 70 sacas, com custo de 69 sacas, isso não faz sentido”, destaca ele. “Em 2010, produzia-se 50 sacas e sobrava mais dinheiro que hoje”.
Ele relembrou que o produtor também tem sua parcela de culpa, já que com uma renda um pouco maior, deu-se ao luxo de pagar mais pelo arrendamento, usar produtos mais caros entre outros. “Isso tudo bagunça o setor e coloca a margem de lucro do produtor em xeque”, comenta.
Umas das alternativas mencionadas pelo especialistas para mudar essa situação é melhorar a comercialização e investimentos em armazenagem, para ganhar poder de barganha. “O produtor precisa defender a sua margem. Se os preços estão baixos, como ele pode ganhar uma margem parecida? Quanto precisa produzir para conseguir a margem que precisa? Qual o custo de se produzir mais?”, finaliza.
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