Notas
O Sonho farroupilha. Criação do CTG-Querência da Saudade na região de fronteira.
Em busca de um ideal, através de lutas e dificuldade muitos realizam seus sonhos, tal conquista não é fácil, e por vezes tende aparecer à desistência em sua mente, mas quem insiste consegue consumar e realizar esse sonho.
Ângelo Perin(FOTO)idealizador e primeiro patrão do CTG Querência
da Saudade de Ponta Porã – MS, discursando na sede
do clube. Um sonho só se faz com atitude, que fique
aqui registrada e concretizada a realização de um sonho
perpetuo as futuras gerações.Arquivo pessoal do amigo Rodrigo Perin
Ponta Porã cidade fronteiriça carinhosamente apelidada como “Princesinha dos Ervais”, de histórias épicas marcadas por fatos ricamente relatados por historiadores e escritores sul mato-grossenses, sendo um deles Elpídio Reis, e de inúmeras pessoas que aqui fixaram sua morada, como também de descendentes que cresceram escutando essas histórias da criação de nossa cidade de nossa rica fronteira.
A Guerra do Paraguai também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança, na história da América Latina foi o maior conflito armado envolvendo quatro grandes nações sul-americanas, existem muitas narrativas históricas de ambos os lados sobre fatos ocorridos durante esse conflito, esses fatos estão cercadas de mistérios até os dias atuais.
Esse conflito ocorreu no período de 1864 a 1870 principalmente na região da província de Mato Grosso nessa época, tendo a região de Ponta Porã Brasil e Pedro Juan Caballero Paraguai, como um dos principais pontos do desfecho deste conflito. Não vamos abordar o conflito armado, mas os fragmentos de acontecimentos do pós-guerra na região de fronteira.
“Começam a chegar a Mato Grosso as comitivas do Rio Grande do sul, as causas dessa epopeia. Terminada a guerra do Paraguai, em 1870, a zona sul de Mato Grosso se tornara conhecida pelos componentes da coluna do general Câmara, que operou nas cordilheiras de Amambaí e Maracaju, na sua fase final. Feita a desmobilização, os que regressaram à sua província natal Rio Grande do Sul levaram a notícia de que aqui existiam campos devolutos, próprios para criação de gado, e imensas matas virgens, onde se encontrava a erva-mate nativa.” ELPIDIO REIS, Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 49.
No fim do século XIX e início do século XX, neste período histórico da região fronteiriça ocorreu uma grande migração do sul do país principalmente do Rio Grande do Sul, “gaúchos”, que juntamente com as comitivas e tropeiros, vieram em busca de novas oportunidades existentes na imensidão de terras de Mato Grosso, isso se deu principalmente por fatos ocorridos no seu estado, à revolução de 1893 a 1895 entre elementos do que defendiam as causas do Partido Federalista e defensores das causas do Partido Republicano, este fato contribuiu para uma grande saída em massa do estado do Rio Grande do Sul, para fugir deste conflito várias famílias sulistas migraram para a região de fronteira. Vale ressaltar que o partido Republicano saiu vitorioso neste conflito.
Os colonos gaúchos, por longos anos trabalharam a terra, muitas pastagens foram formadas, a exploração da erva mate, sendo um dos percussores Tomas Laranjeiras, que ajudou no desenvolvimento econômico da região, sendo grandemente explorada, por este motivo à cidade de Ponta Porã ganhou o apelido de “Princesinha dos Ervais”, o café também foi muito explorado por longos anos substituído com a mudança climática e econômica do país ao longo dos anos a soja invadiu os campos fronteiriços, à exploração de madeira que proporcionou a criação de centenas de madeireiras em pleno funcionamento até meados da década de 80 a grande maioria sendo afiliado de empresas da Região Sudeste.
Agropecuária e o que atraiu mais os gaúchos a região de fronteira, que mesmo com seus ganhos e com as famílias fixadas sentiam falta, saudade dos pampas rio-grandenses, por tais motivos juntamente com a vontade de vencer trouxe em sua bagagem a cultura o modo de ser e existir, os costumes tradicionalistas.
Uma cultura gaúcha, que se destaca o churrasco que foi brilhantemente narrado por Elpídio Reis.
“Churrasco. Os Ponta-poranense são, como poucos, afeiçoados ao churrasco. Tudo é motivo para um bom churrasco. Festa de noivado, de casamento, por exemplo, tem que ter um grande churrasco. Quando o filho completa o primeiro ano, mais outro churrasco. Se um fazendeiro convoca a vizinhança para um mutirão ou “puxirão”, como se diz nas fazendas da fronteira, o almoço churrasco. Se é dia de marcação de bezerrada outro churrasco”. ELPIDIO REIS, Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 63.
Com um grandioso churrasco e muita festa a primeira reunião oficial dos gaúchos, descendentes e admiradores desta cultura sulista, para abraçar a causa do gaúcho Ângelo Perin, que depois de vir de uma de muitas de suas viagens do Rio Grande do Sul e de ver como estava a formação dos Centros tradicionalistas, os famosos CTG, idealizou a construção de um CTG em suas terras localizadas a aproximadamente 6 km do centro de Ponta Porã, na BR 163 na saída que leva a cidade vizinha Antonio João, para que o mesmo servisse de ponto de encontro para os antigos e novos descendentes de gaúchos da região fronteiriça, um clube de referências às tradições gaúchas, para tal empreitada contou com apoio e ajuda de muitos que dividiram e compartilharam deste ideal tradicionalista, o primeiro encontro oficial foi no salão da igreja matriz São José, localizado na Av. Brasil em 1977, reunindo a sociedade Ponta-poranense e futuros sócios fundadores.
Mas a tradição já estava enraizada, pois a formação de grupos de danças artísticas tradicionais gaúchas já ensaiava nas residências dos gaúchos, amantes desta arte, um deles o senhor Genildo Rossini, que cedeu nestes tempos o galpão localizado na Rua Tiradentes, onde funcionava a Auto Elétrica Rossini, para os ensaios dos grupos.
Com passar dos anos grandes bailes ocorriam na sede do CTG, eventos que eram apreciados de tal maneira que gaúchos dos quatro cantos do país prestigiavam, convites eram reservados com meses de antecedências, o baile das debutantes fronteiriças de famílias tradicionais de nossa cidade, era um dos eventos mais esperados do ano, onde tantos os tradicionalistas, como a sociedade Ponta-poranense comparecia lotando o salão do clube, para apreciar a glamorosa festa, que sempre era brindado com um excelente grupo oriundo do Rio Grande do Sul podendo ser citado: Os Serranos, Garotos de Ouro, Gaúcho da Fronteira, Os Monarcas, Eco do Minuano, entre tantos outros grandiosos grupos que abrilhantavam os eventos, artistas renomados da época fizeram seus shows no clube como o apresentador Bolinha da rede Bandeirantes na década de 80, no início dos anos 90 o apresentador Celso Portioli fez o cerimonial do baile das debutantes, devidamente caracterizado, pois obrigatoriamente nestes tempos estar vestido adequadamente a caráter nos moldes tradicionalistas.
“Em matéria de Clube, Ponta Porã tem, desde 1978, um que merece referência especial: é o Centro de Tradições Gaúchas – Querência da Saudade e que já nasceu vitorioso. Fundado por um grupo de gaúchos e filhos de gaúchos, logo no primeiro ano o CTG começou a construção de uma sede campestre em terreno localizado a 6 km do centro da cidade, com 1500m² de área construída, onde já se acham prontos: salão restaurante, gabinete médico, sanitários, cozinhas, etc…” ELPIDIO REIS, Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 128.
FEGAMS 1989 a origem do evento cultural da tradição gaúcha
em Mato Grosso do sul. – Arquivo CTG Querência da Saudade
O CTG Querência da Saudade foi percussor na região fronteiriça no tradicionalismo gaúcho, incentivando outros a construir seu CTG, dar seguimento e propagar essa rica tradição, Ângelo Perin realizou seu sonho e viveu ele, foi o primeiro de tantos valorosos patrões dentro do CTG, mais um patrão em especial se destacou o senhor Ivo Cherin, que por longos anos esteve à frente deste magnifico clube, mantendo a chama do tradicionalismo acesa incentivando as novas gerações, sendo uma referencia das mesmas um baluarte dentro do tradicionalismo, deixando sua marca, sendo proclamado como patrão de honra, titulo este mais do que merecido, por tanta contribuição e dedicação ao tradicionalismo gaúcho sul-mato-grossense.
Composição da mesa da diretoria executiva do CTG de 2011/2013,
neste ano, Ivo Cherin, passou a direção da patronagem, após décadas
de dedicação a frente do clube. Em destaque da esquerda para
direta Dona Cleci Ferrari Cherin e Ivo Cherin patrões de honra,
Sanger Garcia Kersting sota-capataz, Yhulds Bueno como secretario,
João Círio neste evento tomando posse como tesoureiro hoje atual
patrão do (CTG-2014/2016), neste evento Drº Elton Lang em
discurso tomando posse na patronagem ao lado Drª Elza Lang,
Maristela Dal Molin e Leomar Celso Dal Molin neste evento
Vice patrões do CTG. – Arquivo pessoal Yhulds Giovani Pereira Bueno
Nada se faz só, sempre ao lado existem companheiros e companheiras para dar suporte, inúmeros tradicionalistas e admiradores desta cultura, que sempre se fazem presentes quando necessário, que sirva de espelho os acontecimentos passados que a história não se apague da memória das novas e futuras gerações, que a história reverencie eternamente estes pioneiros, que proporcionaram a tantos o prazer de viver dentro do tradicionalismo gaúcho, aos futuros patrões que sempre consigam manter viva essa cultura na região fronteiriça.
Viver o presente planejar o futuro se faz necessário, mas nunca se esquecer dos pioneiros do passado, como Ângelo Perin gaúcho tradicionalista, que concretizou um ideal, acreditando que era possível realizar esse sonho, de proporcionar uma parada, que a mesma servisse referencia a tantos gaúchos saudosos da sua pátria o Rio Grande do Sul.
Autor: Yhulds Giovani Pereira Bueno
Pesquisador e historiador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Pós-graduado em Metodologia Científica em História e Geografia. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Municipais, Estaduais e Federias). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação, membro do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS
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