Notas
Mesmo em baixa no exterior, fertilizantes sobem no Brasil
Apesar da pressão baixista sobre as cotações dos fertilizantes no mercado internacional, influenciada por uma demanda global mais fraca – as safras de grãos estão em fase de colheita no Hemisfério Norte – e pela queda do petróleo, no Brasil os preços estão em alta diante da valorização do dólar. Cerca de 70% do consumo nacional de adubos é atendida por importações. O movimento não afetou a procura até setembro, mas, diante da tendência de desvalorização de commodities importantes como soja e milho, os sinais de que isso poderá acontecer nos próximos meses ganham força.
Nos primeiros nove meses deste ano, as vendas de fertilizantes no país cresceram 7,3% ante igual intervalo de 2013, para 23,742 milhões de toneladas, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Somente em setembro, o volume subiu 9,4% em relação ao mesmo mês do ano passado, para 3,914 milhões de toneladas. Além da valorização do dólar frente ao real, portanto, a demanda ainda «firme» também ajuda a impulsionar a alta das cotações dos fertilizantes, diz Rafael Ribeiro, analista da Scot Consultoria.
Os fertilizantes derivados do nitrogênio aumentaram, em média, 3,2% na primeira quinzena de outubro na comparação com setembro, conforme a Scot. A ureia ficou 1% mais cara na comparação e atingiu R$ 1.220 por tonelada (base Sudeste, sem considerar o frete). Sobre outubro de 2013, a alta foi de 2,8%. Já a tonelada do cloreto de potássio chegou a R$ 1.225 na primeira metade deste mês, com altas de 1,6% sobre setembro e de 0,6% em relação a outubro do ano passado. Cotado a R$ 780 por tonelada, o supersimples granulado, derivado do fosfato, subiu 3,7% e 1%, respectivamente.
No Centro-Oeste, esses insumos são vendidos a preços ainda maiores por causa da logística, observa Victor Ikeda, analista de mercado do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Isso compromete a relação de troca de produtos agrícolas por adubos na região. Em setembro, a relação média de troca de soja por adubos foi a mais desfavorável aos agricultores desde o início de 2013 no Cerrado. Ficou em 30,25 sacas do grão por tonelada de MAP (fosfato monoamônico), de acordo com Ikeda. Na média da região Sul, foram 29,31 sacas.
No caso do milho, a situação foi ainda pior para os produtores no mês passado. A relação de troca do cereal por ureia em Sorriso (MT) foi a menos favorável desde setembro de 2009: foram necessárias, em média, 128,6 sacas do cereal para adquirir uma tonelada do adubo. Em Cascavel (PR) também foi o pior cenário para os agricultores em cinco anos, mas, mesmo assim, foram quase 60 sacas a menos (70,8), conforme o analista do Cepea. A reação dos preços do milho no mercado doméstico neste mês poderá aliviar um pouco a relação de troca em algumas regiões neste mês.
Ainda assim, a tendência é de recuo da demanda por fertilizantes até o fim do ano por parte do produtor de milho principalmente em Mato Grosso, onde neste momento os agricultores planejam as aquisições de adubos para a semeadura da segunda safra no ano que vem, depois da colheita de soja «É possível que o produtor faça as compras já pensando em reduzir a adubação», afirma Ikeda, do Cepea.
Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria, também acredita que a demanda por adubos deverá diminuir no curto prazo. O dólar valorizado frente ao real continua a atuar como um fator de sustentação dos preços, embora a redução da demanda «possa tirar um pouco desse peso», avalia. Ao mesmo tempo, afirma Ribeiro, em dezembro e janeiro, período em que as empresas liquidam estoques, poderá haver uma pressão de baixa nas cotações dos fertilizantes, o que criaria uma boa oportunidade de compras por parte de pecuaristas e agricultores.
FONTE: Valor Econômico
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