Notas
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Até o início deste século, o Estado de Santa Catarina terminava à margem esquerda do Rio do Peixe. Toda a região a partir da margem direita do Rio do Peixe até o Uruguai e Peperi-Guaçu era a terra contestada.
A Argentina vinha requerindo, desde o ano de 1881, a área em questão, baseando-se no Tratado de Tordesilhas e nas Missões Jesuíticas. Entretanto, vestígios deixados pelos bandeirantes paulistas que haviam explorado boa parte da região permitiram ao Barão de Rio Branco apresentar argumentos que convenceram o árbitro da questão, o presidente dos Estados Unidos, Grover Cleveland, a decidir a Questão das Missões, como ficou conhecido o fato, a favor do Brasil. A área era de 30.600 Km2. Foi no ano de 1895.
A partir de então, tanto o Paraná como Santa Catarina pretendiam a soberania na área. A campanha do Contestado estendeu-se de 1912 a 1916, envolvendo o sertanejo local que queria um pedaço de terra. Esta situação só ficou resolvida em 1916, quando o Presidente Wenceslau Brás proferiu o laudo decisivo, dando ganho de causa a Santa Catarina.
Luzerna começou a formar-se antes da integração da região do Contestado ao Estado de Santa Catarina e efetivou-se com a criação do município de Cruzeiro, hoje Joaçaba, em 25 de agosto de 1917, do qual Luzerna era parte integrante. Luzerna não teve envolvimento direto na questão do Contestado, que se resolveu com a intervenção do Exército Nacional e, conseqüentemente, o extermínio dos sertanejos.
Com a conclusão da Estrada de Ferro em 1910, deu-se início à colonização do Vale do Rio do Peixe, facilitando a imigração de colonos, principalmente do Rio Grande do Sul.
O Fundador de Luzerna foi o engenheiro eletrotécnico alemão Henrique Hacker, casado com Sophia Hacker. Viajando de trem impressionou-se com a exuberância do Vale do Rio do Peixe, e em 1915 decidiu iniciar uma colonização particular. Adquiriu uma área de terras de 40.000 ha. de Adelino Sassi, e parte da Fazenda São Pedro. Com Augusto Scherer constitui a Sociedade Sul Brasileira Henrique Hacker & Companhia, ainda no ano de 1915. Dividiu a área em lotes de 24,2 ha (igual a 10 alqueires ou uma colônia) em número de 900 para serem negociados. Pretendia estabelecer uma colonização tipicamente germânica.
Em 1915, foi adquirida uma área de 24.000 hectares da Colonizadora Henrique Hacker & Cia para formar a Colônia Bom Retiro, à margem direita do Rio do Peixe, no Passo da Limeira, onde está localizada Luzerna. Ali o Rio do Peixe «dava passo» para se fazer sua travessia e existia uma limeira, fruta cítrica nativa, donde se originou este primeiro nome. O afluente do Rio do Peixe que ali desemboca ficou com a denominação de Rio Limeira.
No mesmo ano foi adquirida outra vasta área à margem esquerda do Rio do Peixe e, imediatamente, foram iniciadas as medições de terra. A área foi dividida em aproximadamente 900 colônias que foram colocadas à venda. (Uma colônia = 10 alqueires = 24,2 hectares). Ainda em 1915 chegaram 20 famílias russas. Diante de sucessivos revezes transferiram-se para outras regiões.
Estabelecida a ordem e a paz podia-se organizar a colonização. A empresa que construiu a ferrovia recebeu do Governo, a título de indenização, as terras paralelas aos trilhos, numa largura de 15 km para cada lado. A Railway Company, naturalmente, começou a pensar em transformá-las em dinheiro. Através de sua subsidiária Brazil Development and Colonization Company deu os primeiros passos na colonização.
Nos primeiros anos, progrediu muito lentamente. Tudo estava por fazer. Por sua vez, o Estado de Santa Catarina preocupou-se em integrar o antigo Contestado. Em 25 de agosto de 1917, foram criados os municípios de Mafra, Porto União, Chapecó e Cruzeiro – atual Joaçaba a partir de 31 de dezembro de 1943.
Com a criação do Município e Comarca e sua instalação, as coisas se organizaram mais rápido e Bom Retiro, atual Luzerna, passou a destacar-se.
Constituída a Colônia Bom Retiro em 1915. Em março de 1916 as primeiras colônias de terra começavam a ser vendidas. Concebida para ser uma colônia de cultura germânica, passou a receber cedo, descendentes de italianos. Em abril entravam os primeiros colonos. Eram rio-grandenses provenientes dos municípios de São Leopoldo, Montenegro, Santa Cruz, Lajeado, Pelotas e Passo Fundo. Entre os primeiros, contavam-se as famílias Etges, Rohweder, Vier, Reisdorfer, Böck, Arenhart, Scherer, Debus, Lichtnow, Zierwes, Riepe, Rupp, Dreyer, Noyork, Zart e Rauen.
Dados os primeiros passos, Henrique Hacker adquiriu mais uma área de terras à margem esquerda do Rio do Peixe. Após contatos, a direção da ferrovia São Paulo – Rio Grande construiu, a custo de 30 contos de reis, outra linha de trilhos e uma estação onde os trens faziam parada. Inaugurada em 03 de fevereiro de 1922, serviu para embarcar a produção e desembarcar artigos para abastecer os colonizadores. Tinha mangueira para o gado, chiqueiro para suínos, armazém para alfafa, milho, feijão, batatinha e outros produtos que eram embarcados, inclusive erva-mate.
Após a guerra, o afluxo de compradores de terras cresceu muito, vindos sobretudo de Montenegro, RS. A Companhia Hansen também enviou colonizadores. Da Alemanha vieram colonos da Bavária, Baden, Schwaben, Hesse, Sachsen e Reno. Ali se estabeleceram e com coragem e determinação entraram a cultivar as férteis terras do lugar. Deram-se bem com o clima e eram trabalhadores incansáveis. Pelo seu esforço fizeram sua vida e cedo estavam afeiçoados à sua nova pátria.
Ainda em 1918, a Sociedade Sul Brasileira Henrique Hacker doou boas terras para católicos e protestantes, solicitando apenas que viessem padres e pastores. E a religião teve, até hoje, decisiva influência na evolução da comunidade e suas instituições. Em 1925, Bom Retiro ganhava uma nova e ampla igreja, com padres franciscanos residentes e atendendo todo Município de Cruzeiro ao lombo de muares. Em dezembro de 1932 foi criada a Paróquia de Santa Teresinha do Menino Jesus, na sede do Município, e a Paróquia São João Batista de Luzerna foi desmembrada. A sua instalação aconteceu somente em 06 de outubro de 1935, tendo como primeiro vigário o Frei João Evangelista Reinert, que é lembrado em uma das principais ruas do município. A atual igreja matriz foi construída por Frei Meinrado Vogel e inaugurada em 04 de setembro de 1955. Em 1927, foi fundada a primeira Comunidade Evangélica e, em 1938, constituiu-se a primeira paróquia com sede em Bom Retiro, formada pelas comunidades de Bom Retiro, Leãozinho, Veadas (Vila Kennedy), Duas Casas e outras de Municípios vizinhos.
Em 1922, seis anos após a fundação da Colônia, Bom Retiro ainda era pouco povoada. Daí em diante, porém, o seu crescimento acelerou. Surgiram boas casas de comércio, construíram-se serrarias e moinho, abriram-se oficinas de conserto e fabricação de ferramentas. Nas diversas linhas (picadas) foram abertas escolas. Em 5 destas escolas estudavam aproximadamente 130 crianças. Em quatro delas era ensinada a língua alemã. Desta forma, enquanto aprendiam a língua de sua nova pátria, cuidavam também de conservar a sua língua materna.
Em 1929, somente uma pequena parte desta terra fertilíssima era cultivada, talvez a quinta parte. A firma H. Hacker, dispunha de poucas terras ainda para a venda. De segunda mão podia-se conseguir terras, mas os preços já estavam até 10 vezes mais altos que no início.
A população da colônia girava em volta de 3.000 habitantes, 75% dos quais eram alemães ou descendentes. Os demais eram italianos (famílias Frâncio, Manducelli, Traiano, Zanata, Zeni e outras), e algumas poucas famílias de outras nacionalidades. Quanto à religião, 50% eram católicos, 40% eram protestantes e os restantes sabatistas.
Em 1934, chegou uma leva de imigrantes do Tirol Austríaco. Estabeleceram-se no então distrito de Ibicaré onde fundaram Treze Tílias. Os irmãos Francisco e Rudolf Lindner logo estabeleceram-se em Joaçaba, e juntamente com a família de Caetano Natal Branco, deram decisivo impulso à industrialização de Joaçaba e Luzerna.
Em 1937 foi instalada a primeira escola de Luzerna, sob os cuidados das irmãs da Congregação da Imaculada Conceição, e em 1938, moradores exigiram uma escola que fosse dirigida por leigos.
Em abril de 1946 o nome de Bom Retiro foi alterado para Luzerna, por força da lei federal que mandava evitar igualdade de topônimo para as cidades brasileiras. Luzerna, relaciona-se com uma qualidade de alfafa, cultura na época, muito difundida e lucrativa.
Em janeiro 1940 foi fundado o Seminário Menor São João Batista, que no início era somente um prédio de madeira, mas como não comportava mais a quantidade de alunos, em 1956 a Província da Imaculada Conceição do Sul do Brasil autorizou a construção do atual prédio do Seminário, passando a se chamar Seminário Nossa Senhora dos Anjos.
Em março do mesmo ano foi inaugurado o Hospital São Roque, sob a administração das Irmãs Vicentinas, pioneiro na região.
A partir de 16 de fevereiro de 1949 passou a ser chamado de Distrito e aos 12 de abril deste mesmo ano foi instalado o Cartório de Paz em Luzerna.
No mesmo ano de 1949, existiam em Luzerna três escolas: Escola Mista Estadual Desdobrada I; Escola Mista Estadual Desdobrada II; e Escola Mista Municipal Simples. Passaram então a formar as Escolas Reunidas e Professora Ada de Aquino Fonseca. Em 1954, essas escolas foram transformadas em Grupo Escolar Padre Nóbrega, que em 1971 passou a ser Escola Básica Padre Nóbrega.
Em 1980, Luzerna contava com uma área total de 96 km2, e com uma população de 5.222 habitantes, sendo 2.896 na área urbana e 2.326 na área rural. Vinte anos depois, em 2000, o Município contava com uma área de 116.7 km2, e com uma população de 5.565 habitantes, dos quais 3.963 são da área urbana e 1.063 da área rural.
A emancipação de Luzerna foi concretizada pela Lei nº 10.050 de 29/12/1995, e em 1996, foi realizada a primeira eleição para escolha do Prefeito Municipal, que assumiria o cargo em 1997.
Colonizada por alemães e italianos, Luzerna continua sendo o berço de muitas gerações que sabem dar valor a tudo o que existe na região. Uma cidade de paisagens belas e de muitas riquezas naturais, que são preservadas pelos filhos desta terra. Um paraíso como poucos… Assim é Luzerna… Jovem e Hospitaleira.
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