Notas
Como a infidelidade financeira põe relacionamentos em risco
Especialistas dizem que as novas gerações tendem a esconder mais as coisas, entre elas as dívidas
Se a infidelidade é capaz de colocar em risco o relacionamento, segredos financeiros podem ser ainda mais devastadores para a vida de um casal.
A infidelidade financeira é mais comum do que se pensa.
Nos EUA, uma em cada cinco pessoas reconhece ter escondido uma dívida, uma conta de cartão de crédito ou hábitos de compras compulsivas, segundo estudo da empresa americana Creditcards.com.
«Muita gente coloca em risco a confiança do casal e da situação financeira», diz Ted Rossman, analista responsável pelo levantamento.
Rossman diz que observou uma tendência de aumento da infidelidade financeira nos últimos anos. Segundo ele, porque os millennials, pessoas com idade entre 18 e 37 anos, tendem a guardar mais segredos que as gerações anteriores.
Tanto que em aplicativos de encontros, como o Tinder, há jovens que fazem questão de registrar no perfil não ter dívidas – um indicativo de que a questão financeira para o relacionamento do casal não é apenas um detalhe.
Cartões de crédito escondidos
Há também o caso de pessoas que economizam sem contar ao parceiro, pensando em um cenário de separação.
«É como um fundo de liberdade», explica Rossman. «Isso é um erro, porque está assumindo que o relacionamento pode falhar.»
Esses fundos escondidos, diz o especialista, «poderiam ser usados, por exemplo, para aposentadoria ou para pagar estudos dos filhos».
Mas a maneira mais comum de «trair», diz Rossman, é esconder um cartão de crédito do parceiro.
Trata-se de uma situação complicada, considerando que quase dois terços dos que usam cartões de crédito nos EUA carregam dívidas de um mês para o outro.
Matematicamente, esconder um cartão de crédito pode ser uma das piores traições, avalia o analista financeiro.
«As taxas de juros são tão altas que, quando você arrasta a dívida, os juros aumentam e as coisas podem acabar em desastre», explica Rossman.
Não há muitas pesquisas sobre o tema da infidelidade financeira e a maioria dos estudos existentes olha apenas a situação no primeiro mundo.
Um estudo de 2018 conduzido pela empresa Harris Poll a pedido do The National Endowment for Financial Education (NEFE), uma organização sem fins lucrativos, assinala que 41% dos adultos nos EUA reconhecem ter traído financeiramente o parceiro ou a parceira.
«A infidelidade financeira pode até parecer inofensiva. Talvez alguém esconda apenas uma compra, uma conta ou um pouco de dinheiro. Mas a infidelidade pode crescer a um nível mais grave», escreve Ted Beck, presidente executivo do NEFE.
«Isso tem um impacto no relacionamento além da magnitude, provocando discussões, prejudicando a confiança e, em alguns casos, levando à separação ou ao divórcio.»
Outro estudo, com o título Infidelidade Financeira em Relacionamentos de Casais, feito na Universidade do Mississippi e publicado no Journal of Financial Therapy em 2018, concluiu que 27% dos participantes da pesquisa esconderam algum tipo de informação financeira.
Contas bancárias separadas?
Muitos casais decidem manter contas bancárias separadas. A ideia do «meu dinheiro, seu dinheiro, nosso dinheiro» pode funcionar desde que os dois estejam de acordo, dizem especialistas.
Por exemplo, é possível que um casal decida deixar uma porcentagem do próprio salário para gastar em conjunto ou que cada um deixe uma parte da renda para usarem individualmente.
As fórmulas são quase infinitas. Mas o recomendado é discutir o plano e entrar num acordo.
Terapia financeira
Assim como há infidelidade financeira, há terapia financeira. Trata-se de um novo campo de especialização que reúne psicologia e administração.
Muitos dos pacientes são casais que estão em crise por problemas econômicos, pessoas com tendência a compras compulsivas ou simplesmente recém-casados que querem planejar o futuro.
«As brigas por dinheiro sempre são muito ofensivas. O dinheiro não é apenas um pedaço de papel», diz Megan McCoy, psicóloga especializada em terapia financeira e professora da Universidade de Kansas, nos EUA.
«O dinheiro é um símbolo de poder, controle, segurança. Então, quando você briga por dinheiro, outros níveis de conflito surgem», observa.
Para ela, casais devem falar sobre dinheiro de forma clara e aberta.
No entanto, as coisas podem ficar muito mais difíceis se a infidelidade financeira esconder outros problemas, como o vício em álcool ou drogas.
«Esse tipo de infidelidade é sempre a expressão de um sintoma», adverte.
Fonte: BBC Brasil
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