Notas
A cultura brasileira perde Nico Fagundes, folclorista gaúcho
Olá pessoal do Cultura Caipira Blog. A cultura brasileira perde Nico Fagundes, folclorista gaúcho. Talvez você esteja se perguntando quem será ele ou o que está fazendo neste site sobre a cultura caipira e a música sertaneja de raiz. Espero que até o final do artigo estas duas perguntas que fiz estejam respondidas.
Folclorista, poeta, historiador, apresentador e tradicionalista, Antonio Augusto Fagundes, conhecido comoNico Fagundes, gaúcho de Inhanduí – interior de Alegrete – foi um dos maiores estudiosos da cultura gaúcha, incluindo sua forma de se vestir, danças típicas e culinária. Iniciou sua carreira no jornal e depois foi para o rádio.
Fez parte do Instituto de Tradições e Folclore e estudou folclorismo por oito anos, sendo eleito Patrão do 35 CTG (Centro de Tradições Gaúchas). Começou a fazer pesquisas e tornou-se a maior autoridade sobre a indumentária gaúcha. Foi para a TV trabalhar como ator e foi um dos fundadores do Conjunto de Folclore Internacional, que depois se transformou em Os Gaúchos.
No mesmo Instituto de Tradições e Folclore, Nico Fagundes criou a Escola Gaúcha de Folclore, de nível superior. Formou-se em Direito, fez pós-graduação em História do RS e mestrado em Antropologia Social, tornando-se autoridade nas tradições gaúchas. No cinema foi também ator, roteirista e diretor. Entrou na Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, e fundou o grupo Cavaleiros da Paz, realizando cavalgadas por diversos países da América do Sul.
Na RBS TV (Rede Brasil Sul) Nico Fagundes apresentou o programa Galpão Crioulo por 30 anos, de 1982 à 2012, com nada menos que 1500 edições. Criou em 2001, juntamente com os sobrinhos Neto e Ernesto e seu irmão Bagre o grupo Os Fagundes.
Poeta, deixou mais de 100 músicas, dentre elas, O Canto Alegretense. Não conhece? Pois ela foi parodiada milhares de vezes por Jair Kobe, que faz o personagem Guri de Uruguaiana, e que canta a letra deste clássico da música gaúcha no lugar da letra dos mais variados ritmos musicais, nacionais e internacionais.
Segundo seu compositor os versos inicias da música Canto Alegretense saíram de uma resposta dada a um colega advogado que queria saber onde ficava a cidade de origem dos Fagundes. E ele passou os versos para seu irmão, Bagre Fagundes, e o restante saiu em apenas quatro minutos. Vamos à versão original de O Canto Alegretense, de Nico Fagundes e Bagre Fagundes, com Os Fagundes. E aproveitar para aprendermos alguns dos termos que estão na letra:
Música: O Canto Alegretense
Composição: Nico Fagundes e Bagre Fagundes
Intérprete: Os Fagundes
Não me perguntes onde fica o Alegrete
Segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada algum ginete
E ouvirás toque de gaita e violão
Prá quem chega de Rosário ao fim da tarde
Ou quem vem de Uruguaiana de manhã
Tem o sol como uma brasa que ainda arde
Mergulhado no Rio Ibirapuitã
Refrão
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduí
E na hora derradeira que eu mereça
Ver o sol alegretense entardecer
Como os potros vou virar minha cabeça
Para os pagos no momento de morrer
E nos olhos vou levar o encantamento
Desta terra que eu amei com devoção
Cada verso que eu componho é um pagamento
De uma dívida de amor e gratidão
Refrão…
Ginete: bom cavaleiro, firme nas rédeas
Rio Ibirapuitã: rio que tem grande parte de sua extensão em Alegrete, cidade cortada por ele
Ouve o canto gauchesco e brasileiro: a referência ao Brasil teve a função de situar o regionalismo gaúcho no contexto nacional, e não como algo isolado do resto do país
Flor de tuna: flor de aroma suave que brota em uma planta de cacto comum na fronteira, a tuna
Camoatim de mel campeiro: o camoatim é um inseto, da família das vespas, que produz um mel silvestre, ou campeiro
Pedra moura: pedra escura
Quebradas do Inhanduí: Na área do Inhanduí, rio da região que também dá nome ao subdistrito do Alegrete que é local de origem da família Fagundes
Potros: cavalo novo, ou ainda não inteiramente domado
Pagos: a região onde se nasceu, terra de origem
No ano 2000, Nico Fagundes teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral), e ficou um pouco afastado do programa Galpão Crioulo. Em 2010, teve uma infecção geral e chegou a ficar em coma induzido. Quando completou 80 anos em 2014, foi homenageado com um programa Galpão Crioulo Especial. Nico Fagundes estava internado há mais de um mês em Porto Alegre, onde viajou fora do combinado na data de ontem, 24 de Junho de 2015, dia de São João.
Aqui no Mato Grosso do Sul, em cuja capital Campo Grande foi criado o Cultura Caipira Blog, a influência da colonização gaúcha é muito forte. Temos vários CTG’s no estado e conhecemos um pouco de sua cultura, através das músicas, culinária e tradições. Gosto principalmente das músicas ligadas ao nativismo, ao tradicionalismo de um povo que canta e preserva os costumes e as coisas de sua terra de uma maneira simples e poética, porém com um linguajar próprio, tal qual encontramos na música caipira e no sertanejo de raiz, como puderam observar na análise da letra de O Canto Alegretense.
E pela vida e obra de Nico Fagundes, por tudo que fez pela cultura gaúcha – e antes que nos esqueçamos faz parte do Brasil – fica nosso registro de seu passamento; perdemos todos nós pela partida deste grande defensor do folclore e tradições de seu povo, em um 2015 que já se provou mais que funesto para todos nós que estamos teimando em manter e preservar nossa cultura brasileira. Cada um como pode e à sua maneira.
Espero que tenham gostado de nosso artigo. Até a próxima!
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