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Internacional

O mistério do satélite na órbita da Terra que se moveu e ninguém sabe por quem

Publicado

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  • Jonathan Amos
  • Role,Repórter de Ciências da BBC News
  • 27 novembro 2024

Alguém moveu o satélite mais antigo do Reino Unido — mas não se tem registro de quem o fez e por quê.

Lançado em 1969, apenas meses após a humanidade conseguir pisar na Lua pela primeira vez, o Skynet-1A foi lançado sobre a costa leste da África para transmitir comunicações para as Forças Armadas britânicas.

Poucos anos depois, quando o satélite parou de funcionar, era de se esperar que a gravidade o empurrasse um pouco mais para o leste, sobre o oceano Índico.

Mas hoje, curiosamente, o Skynet-1A está a meio planeta de distância dali, em uma posição de 36 mil km acima do continente americano.

É possível dizer quase com certeza total que seus propulsores foram ligados nos anos 1970 para conduzi-lo rumo ao oeste. A pergunta que se faz é: quem fez isso, e com qual autoridade e propósito.

Outro ponto intrigante é que a informação chave sobre esse satélite — que já foi um ativo de segurança nacional vital — pode se perder.

Mas mistérios à parte, também podemos perguntar por que esse satélite segue sendo importante. Afinal, estamos falando de um lixo espacial de 50 anos.

«Segue sendo relevante porque quem quer que tenha movido o Skynet-1A nos ajudou muito pouco», diz o consultor espacial Stuart Eve.

«Agora está no que chamamos de ‘um poço de gravidade’ a 105 graus de longitude oeste, vagando para frente e para trás, como uma bolinha de gude em um pote. E infelizmente isso o coloca com frequência perto de outros satélites em trânsito.»

«Como ele está morto, o risco é que ele possa se chocar com algo, e como é ‘nosso’ satélite, somos responsáveis por ele.»

Mapa de satélite em órbita

Eves pesquisou em catálogos de satélites antigos, nos Arquivos Nacionais e conversou com especialistas em todo o mundo, mas ele não conseguiu encontrar explicações para o comportamento do Skynet-1A, que é o satélite mais antigo do Reino Unido.

É tentador pensar em teorias da conspiração — ainda mais por ser difícil ouvir o nome «Skynet» sem pensar no sistema maligno de inteligência artificial que tenta dominar o mundo na série de filmes O Exterminador do Futuro.

Mas não existe nenhuma relação com isso, a não ser o nome. A vida real é muito mais prosaica.

O que se sabe é que o Skynet-1A foi produzido nos EUA pela extinta empresa aeroespacial Philco Ford e lançado por um foguete Delta da Força Aérea americana.

«O primeiro satélite Skynet revolucionou a capacidade de telecomunicações do Reino Unido, permitindo que Londres se comunicasse com segurança com forças britânicas em lugares distantes como Singapura. No entanto, do ponto de vista tecnológico, o Skynet-1A era mais americano do que britânico, já que foram os EUA que o construíram e o lançaram», afirma o especialista Aaron Bateman, em um artigo sobre a história do programa Skynet, que está agora na sua quinta geração.

Esta opinião é confirmada por Graham Davison, que operou o Skynet 1A no início dos anos 70 do centro de operações do Reino Unido na base da RAF (a Força Aérea Britânica) Oakhanger em Hampshire, na Inglaterra.

«Os americanos inicialmente controlavam o satélite em órbita. Eles testaram todos os nossos softwares com o deles, antes de eventualmente passar controle à RAF», diz o engenheiro aposentado.

«Essencialmente havia duplo controle, mas quando ou por que o Skynet-1A teria sido devolvido aos americanos, que parece provável… eu não consigo me lembrar», diz Davison, hoje com mais de 80 anos.

Engenheiro britânico trabalhando em laboratório
Legenda da foto,Engenheiros britânicos estão desenvolvendo tecnologias para capturar satélites fora de serviço em órbitas baixas

Rachel Hill, estudante de doutorado da University College London, também está vasculhando os Arquivos Nacionais.

Sua pesquisa levantou uma hipótese bastante razoável.

«Uma equipe do Skynet de Oakhanger iria à base de satélites da USAF em Sunnyvale (conhecida informalmente como ‘Cubo Azul’) para operar a Skynet durante o ‘Oakout’. Foi quando o controle foi temporariamente transferido para os EUA enquanto Oakhanger esteve fora de serviço para manutenção essencial. Talvez a mudança tenha acontecido nesse momento», especula Hill.

Os registros oficiais — e incompletos — do Skynet-1A sugere que o comando final do satélite foi deixado na mão dos americanos quando Oakhanger o perdeu de vista em junho de 1977.

Mas seja como for que o Skynet-1A tenha sido movido para sua posição atual, ele foi colocado para «morrer» em um local estranho. Ele deveria ter sido colocado em uma área que é uma «órbita cemitério».

Essa região fica mais acima no céu, e é onde lixos espaciais não interferem em satélites ativos de telecomunicações.

Usar essa órbita para lixo espacial é o padrão atual da indústria, mas nos anos 1970 ninguém dava bola para sustentabilidade espacial.

satélite
Legenda da foto,Os americanos mostraram que é possível tomar posse de um satélite em órbita alta

As atitudes mudaram desde então, porque o espaço está mais congestionado.

A 105 graus de longitude oeste, um satélite pode ficar a apenas 50km de distância de um lixo espacial quatro vezes por dia.

Pode parecer uma distância grande, mas nas velocidades que esses objetos se movem, os riscos de uma colisão estão aumentando.

O ministério da Defesa disse que o Skynet-1A era constantemente monitorado pelo Centro Nacional de Operações Espaciais do Reino Unido. Outros operadores de satélite são avisados de quando haverá aproximações grandes, para que possam desviar seus satélites.

Em última instância, o governo britânico pode ter que pensar em retirar o satélite antigo para um local mais seguro.

Tecnologias estão sendo desenvolvidas para se pegar lixo espacial.

A agência espacial britânica está financiando esforços para fazer isso em altitudes mais baixas. Os americanos e chineses já mostraram que isso é possível até mesmo em órbitas mais altas, como a do Skynet-1A.

«Pedaços de lixo espacial são como bombas-relógio», diz Moriba Jah, professor de engenharia aeroespacial da Universidade do Texas, em Austin, nos EUA.

«Precisamos evitar o que chamo de eventos de super-disseminação. Quando essas coisas explodem ou algo colide com eles, isso gera milhares de pedaços de destroços que ameaçam outras coisas com as quais nos importamos.»

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