Internacional
Mulher em busca de família biológica descobre pai entre amigos do Facebook
- Fay Nurse
- Role,Serviço Mundial da BBC
- Há 53 minutos
Tamuna Museridze respirou fundo para dar o telefonema com o qual sonhava desde que descobriu que poderia ser adotada.
Quando finalmente localizou a mulher que acreditava ser sua mãe biológica, ela sabia que poderia não resultar em um reencontro de conto de fadas.
Mas o que ela não esperava era que a mulher do outro lado da linha fosse reagir com frieza e irritação.
«Ela começou a gritar, a berrar — disse que não tinha dado à luz uma criança. Ela não queria nada comigo», lembra Tamuna, explicando que se sentiu mais surpresa do que chateada com a resposta.
«Eu estava pronta para qualquer coisa, mas a reação dela foi além de tudo que eu poderia imaginar.»
Quando Tamuna, que tem 40 anos, ligou para a mãe biológica em agosto, sabia que ela talvez não a quisesse em sua vida. Mas Tamuna ainda não estava preparada para recuar. Ela queria saber as circunstâncias da sua adoção, e havia outra coisa que ela queria e que somente sua mãe poderia dar a ela: o nome do seu pai biológico.
A busca de Tamuna começou em 2016. Quando ela estava limpando a casa de sua falecida mãe, ficou surpresa ao encontrar uma certidão de nascimento com seu nome, mas com a data de nascimento errada, e começou a suspeitar que havia sido adotada. Depois de fazer algumas pesquisas, ela criou um grupo no Facebook chamado Vedzeb, ou «Estou procurando», na esperança de encontrar seus pais biológicos.
Em vez disso, ela descobriu um escândalo de tráfico de bebês na Geórgia que afetou dezenas de milhares de vidas. Ao longo de muitas décadas, pais foram enganados e informados de que seus recém-nascidos haviam morrido — na sequência, os bebês eram vendidos.
Tamuna é jornalista e seu trabalho já reuniu centenas de famílias, mas, até aquele momento, ela não havia conseguido desvendar o mistério da sua própria origem — e se perguntava se também havia sido roubada quando era criança.
«Eu era uma jornalista nesta história, mas também era uma missão pessoal para mim», diz ela.
Sua busca avançou neste ano, quando ela recebeu uma mensagem em seu grupo do Facebook. Era de alguém que morava na zona rural da Geórgia, que dizia conhecer uma mulher que havia escondido a gravidez e dado à luz em Tbilisi, em setembro de 1984. Isso foi mais ou menos na época em que Tamuna nasceu — uma data que ela havia compartilhado publicamente.
A pessoa acreditava que a mulher era a mãe biológica de Tamuna — e, o mais importante, deu a ela um nome.
Tamuna procurou imediatamente por ela online. Mas como não conseguiu encontrar nada, decidiu publicar um apelo no Facebook perguntando se alguém a conhecia.
Uma mulher logo respondeu, dizendo que a mulher que havia escondido a gravidez era sua tia. Ela pediu a Tamuna que apagasse a postagem, mas concordou em fazer um teste de DNA.
Enquanto aguardavam o resultado, Tamuna telefonou para a mãe biológica.
Uma semana depois, chegou o resultado do teste de DNA, indicando que Tamuna e a mulher no Facebook eram de fato primas. Munida desta evidência, Tamuna conseguiu convencer a mãe a admitir a verdade e revelar o nome do seu pai biológico. Era um homem chamado Gurgen Khorava.
«Os primeiros dois meses foram chocantes, eu não conseguia acreditar que essas coisas estavam acontecendo comigo», ela recorda.
«Não conseguia acreditar que os havia encontrado.»
Assim que Tamuna descobriu o nome de Gurgen, ela rapidamente o encontrou no Facebook. E descobriu que ele estava acompanhando a história dela nas redes sociais — o trabalho dela de reconectar famílias é amplamente conhecido em toda a Geórgia.
Tamuna ficou surpresa ao descobrir que ele «estava na minha lista de amigos há três anos». Ele só não havia percebido que fazia parte da história dela.
«Ele nem sequer sabia que minha mãe biológica estava grávida», conta Tamuna.
«Foi uma grande surpresa para ele.»
Eles logo marcaram um encontro na cidade natal dele, Zugdidi, no oeste da Geórgia, a cerca de 260 quilômetros de onde ela mora, em Tbilisi.
Olhando para trás, Tamuna acha que estava em estado de choque, mas, ao caminhar até o portão do jardim de Gurgen, ela se sentiu surpreendentemente calma.
Quando o homem de 72 anos apareceu, eles se abraçaram e pararam para se olhar por um momento, sorrindo.
«Foi estranho, no momento em que ele olhou para mim, ele sabia que eu era filha dele», ela recorda.
«Senti um misto de emoções.»
Ela tinha muitas perguntas, e não sabia por onde começar. «Ficamos sentados juntos, observando um ao outro e tentando encontrar algo em comum», relata.
Enquanto conversavam, perceberam que tinham muitos interesses em comum — Gurgen havia sido um renomado dançarino do balé nacional da Geórgia, e ficou encantado ao saber que as filhas de Tamuna, suas netas, compartilham sua paixão.
«As duas adoram dançar, e meu marido também», diz ela com um sorriso.
Gurgen convidou toda a família para ir à sua casa e conhecer Tamuna, apresentando-a a um enorme grupo de parentes novos — meio-irmãos, primos, tias e tios. A família concordou que havia uma forte semelhança entre eles.
«De todos os filhos dele, eu sou a mais parecida com meu pai», diz ela.
Eles passaram uma noite compartilhando histórias, comendo comida tradicional georgiana e cantando enquanto Gurgen tocava acordeão.
Embora já tivesse encontrado o pai, Tamuna ainda tinha uma pergunta incômoda: será que ela — assim como milhares de outros georgianos — havia sido roubada da mãe ao nascer e vendida? Seus pais adotivos não estavam mais vivos, então ela não podia recorrer a eles para obter respostas.
Ela finalmente teve a chance de perguntar à mãe biológica em outubro. Uma emissora de TV polonesa estava filmando um documentário sobre Tamuna e a levou para conhecer sua mãe, que concordou em conversar com ela em particular.
Diferentemente de muitas pessoas que Tamuna ajudou a reunir, ela descobriu que ela própria não havia sido uma criança roubada. Em vez disso, sua mãe a havia colocado para adoção — e guardado este segredo por 40 anos.
Sua mãe e seu pai biológicos não estavam em um relacionamento, e haviam tido apenas um breve encontro. Sua mãe, tomada pela vergonha, optou por esconder a gravidez. Em setembro de 1984, ela viajou para Tbilisi, dizendo às pessoas que iria fazer uma cirurgia e, em vez disso, deu à luz uma filha. Ela ficou lá até que fossem tomadas as providências para a adoção de Tamuna.
«Foi doloroso saber que passei 10 dias sozinha com ela antes da adoção. Tento não pensar nisso», reflete Tamuna.
Ela conta que sua mãe pediu a ela que mentisse e dissesse às pessoas que havia sido roubada.
«Ela me falou que se eu não dissesse que havia sido roubada, estaria tudo acabado entre nós… e eu disse que não poderia fazer isso.»
Tamuna acredita que isso seria injusto com todos os pais cujos bebês foram roubados.
«Se eu mentir, ninguém mais vai acreditar nessas mães», explica.
Sua mãe pediu então que ela saísse de casa, e elas não se falaram desde então.
«Eu faria tudo de novo?», ela questiona. «Claro que faria, descobri tanta coisa sobre minha nova família.»
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