Internacional
Fenômeno La Niña vai prejudicar a safra 2021/22 de soja no Brasil?
Especialistas avaliam a incidência do fenômeno no país e dão dicas de plantio para que o impacto no enchimento de grãos seja minimizado
O fenômeno climático La Niña começa durante essa primavera, com ápice provavelmente em novembro, atingindo também o mês de dezembro, período crítico para o enchimento de grãos de soja em estados brasileiros que iniciam o plantio entre setembro e outubro. O alerta é do climatologista Celso Oliveira, da Somar Meteorologia.
Na Argentina, por exemplo, os impactos negativos sobre a produção de grãos, especialmente soja e milho, já são dados como certos por conta do fenômeno. Prova disso é que a Bolsa de Grãos de Rosario prevê reduções de chuvas de até 30% durante a próxima safra.
Soma-se a isso a redução entre 18% e 25% da capacidade de carga por navio devido ao baixo nível histórico do rio Paraná, o que pode interferir nas exportações do grão e também do farelo, subproduto do qual o nosso país vizinho é líder mundial.
Já por aqui, segundo Oliveira, existe risco maior de a estiagem impactar fortemente determinadas áreas, com destaque à região Sul. “Além disso, esse fenômeno prossegue até meados do próximo verão. O efeito do La Niña vai ser sentido pelo menos até o início do próximo outono. Já estamos com características dele, embora o fenômeno ainda não tenha oficialmente começado, mas a temperatura do Pacífico ficou mais baixa do que o normal no último verão. Estamos agora sobre neutralidade, mas o Pacífico já está em processo de resfriamento. A seca observada no país durante este inverno já é um reflexo disso”, explica.
Desta forma, o que era uma probabilidade, vai ganhando cada vez mais ares de certeza. De acordo com a última atualização do Climate Prediction Center (CPC), divulgada em 16 de agosto, o La Niña tem 70% de chances de permanecer ativo entre novembro deste ano e janeiro de 2022.
Entretanto, segundo Oliveira, o importante é pensar na questão da regularização, ou seja, quando é seguro dizer que a chuva é suficiente para o produtor instalar a safra. “Com o La Niña, isso acontece mais tarde do que o desejável. Mas vale salientar que no ano passado, já tivemos um atraso gigantesco da instalação da primeira safra de soja no Brasil por conta não apenas do La Niña, mas também de outros problemas associados à temperatura do Atlântico Norte”, lembra.
Assim, o ponto importante parte daí: as chuvas de 2021 chegarão atrasadas como no ano passado? Para o climatologista, a resposta é não. “Neste ano, há uma expectativa de chuvas mais fortes no decorrer de outubro em boa parte do país, o que pode permitir uma instalação da lavoura mais rápida, diferentemente do que ocorreu em 2020”, crava.
Outros fatores
O pesquisador da Embrapa Soja, José Renato Bouças Farias, acredita não ser necessariamente correto associar a presença de El Niño ou La Niña à produtividade de grãos. “Considero que a variabilidade climática de hoje é tão frequente e intensa que o produtor tem de se precaver sempre, independentemente de qualquer fenômeno climático”, avalia. “Na safra 2019/2020, por exemplo, não tivemos La Niña, mas o Rio Grande do Sul experimentou uma violenta perda produtiva devido à seca. Acho que esses momentos de deficiência hídrica e de temperaturas elevadas ‘fora de época’ estão se tornando cada vez mais frequente e isso exige que o produtor se previna para não ver toda a sua área perdida”, completa. Assim, para ele, a palavra de ordem é precaução. Mas como?
Farias reconhece que caso o La Niña realmente se concretize, os riscos são ainda maiores e fazem parte do rol de desafios climáticos a que o produtor vem sendo submetido nos últimos anos. “No norte do Paraná, onde estou, ficamos, muitas vezes, sem um pingo de água por um mês inteiro, mas depois chove todo o volume mensal previsto em poucos dias, de uma vez. Essas chuvas de grande intensidade costumam ser perdidas, pois não são filtradas no solo. São condições que passamos a ter de conviver de forma mais frequente”, considera.
Como lidar?
Para o especialista da Embrapa, a chave está no bom manejo do solo e na melhora da capacidade de armazenamento de água. “São fatores cruciais, ainda que hoje falemos mais de capacidade de recarga de água no solo, permitindo que ele tenha estrutura para absorver mais líquido. Também é importante propiciar movimentos ascendentes de água para suprir a demanda da planta e, onde for possível, escalonar essa semeadura, não plantando tudo na mesma data, pois, caso ocorra estiagem, nem toda a lavoura será afetada simultaneamente. Trabalhar com cultivares de ciclos diferentes também é uma ótima saída. Essas dicas valem para todos os estados, mas especialmente para os da região Sul, que certamente sofrerá mais com o La Niña”, explica.
Tais cuidados podem evitar que as perdas de quase oito milhões de toneladas de soja ocorridas na safra 2019/2020 se repitam no Rio Grande do Sul. “Imagine que após ter todo o custo de instalação e acompanhamento da lavoura, na hora de colher, o produtor direto teve prejuízo da ordem de quatro bilhões de dólares. Estamos falando de uma única safra em um único estado”, lembra.
Segundo Farias, se a previsão do meteorologista da Somar, Celso Oliveira, se concretizar e o La Niña provocar deficiência hídrica e altas temperaturas em dezembro, o país terá perdas significativas na safra 2021/2022. “Isso porque o período mais crítico de falta de chuva para a soja é na fase de enchimento de grãos. Se faltar água, a planta aborta a vagem, o grão fica xoxo e ela não tem capacidade de emitir nova florada. Essa fase da planta acontece cerca de 60 a 70 dias após a semeadura”, afirma.
Para agravar, os estados do Sul estão passando por um inverno muito seco, sem água no perfil de solo, com lençol freático baixo. “Então, esse aporte que poderia haver por ascensão capilar será muito menor. É uma safra que já começa complicada. Por isso, toda a estratégia de prevenção do produtor deve ser considerada, ainda mais em um cenário de fenômeno climático potencialmente intenso”, sugere. Por isso, é válido repensar o início do plantio.
Começo da semeada
O ciclo de produção da soja dita que o enchimento de grãos acontece em meados de dezembro em diante para os estados que começam a plantar no início de outubro, ou seja, logo após o término do vazio sanitário na maioria das localidades.
Já para os que costumam semear ainda mais cedo, em setembro, como é o caso de Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Goiás, por exemplo, o impacto do La Niña pode ser ainda mais forte. “Nas últimas safras, a grande maioria das áreas vem plantando em final de setembro e início de outubro, ou seja, a fase de enchimento de grãos se dá em dezembro. Se houver um regime pluviométrico deficitário aliado a altas temperaturas, essa conjunção trará grandes impactos para a cultura da soja”, adverte.
No entanto, se o produtor plantar em meados de novembro, como é muito comum em algumas áreas do Rio Grande do Sul, ele “escaparia” desse período, pois teria o período mais crucial da lavoura em vigor apenas em janeiro. “Mas, como se trata de clima, essas são apenas possibilidades”, salienta o especialista da Embrapa Soja.
O que é o La Niña?
O que realmente significa o La Niña e como seus reflexos modificam o clima no globo, afetando todo o cinturão agrícola mundial? Esse fenômeno consiste em uma alteração cíclica das temperaturas médias do Oceano Pacífico, principalmente nas águas da porção central e leste, o que pode interferir em certos aspectos, como a distribuição de calor, concentração de chuvas, formação de secas e a pesca.
Desta forma, o La Niña está vinculado ao resfriamento das temperaturas médias oceânicas, ou seja, é o oposto do El Niño, que produz um aquecimento anormal das águas. “Inicialmente, o La Niña faz com que as chuvas atrasem no país por dois motivos: porque as frentes frias avançam pela costa brasileira ao invés de pelo interior e, também, porque a chuva da Amazônia desperta mais tarde. Entretanto, isso não impede que chova forte em algumas áreas, como acontecerá ainda nesta semana em regiões do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso”, afirma Oliveira, da Somar.
Normalmente, o La Niña aumenta a chance de estiagens durante o final da primavera e verão no Sul e também na Argentina. “Por outro lado, o que percebemos em anos de La Niña é que, justamente durante o verão e início de outono, chove de forma mais intensa sobre áreas do Norte, Nordeste e estados como Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso, ou seja, a chuva fica mais concentrada na metade norte do Brasil, enquanto a região Sul sofre mais com as estiagens“, explica o meteorologista. CANAL RURAL
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